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O maior mérito do crescimento da educação profissional e tecnológica é a democratização: Entrevista

Publicado: Quinta, 07 de Abril de 2011, 11h54 | Última atualização em Quarta, 23 de Setembro de 2015, 21h49 | Acessos: 1463












[caption id="attachment_8548" align="alignleft" width="130" caption="Educação profissional e tecnológica é estratégica no processo de desenvolvimento econômico, diz presidente do Conif. Autor: Arquivo pessoal "][/caption]







Presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), o reitor e professor titular do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Cláudio Ricardo Gomes de Lima, defende que a rede federal pode crescer e beneficiar muitos estudantes e formar profissionais para o futuro do país.



Técnico em química pela antiga Escola Técnica Federal do Ceará, graduado em química industrial, com mestrado em engenharia civil pela Universidade Federal do Ceará, o professor também tem licenciatura plena para graduação de professores. Atualmente, faz doutorado em geografia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).



Em entrevista ao Jornal do Professor, Cláudio Lima fala sobre a importância da educação profissional e tecnológica, que considera estatégica no processo de desenvolvimento do país. "A educação tecnológica e profissional permite a formação verticalizada e transversal, perpassando os dois grandes níveis de educação: o básico e o superior,” salienta.



Para ele, o crescimento da rede federal de educação profissional, científica e tecnológica tem sido espetacular, nos últimos oito anos, tendo passado de 140 instituições para 354, em 2011. Em sua opinião, o maior mérito desse crescimento é a democratização do espaço da educação profissional e tecnológica, antes restrito aos grandes centros urbanos. “Atualmente, centenas de jovens e adultos têm acesso a essa modalidade de ensino, sem precisar deixar a sua cidade”, destaca o presidente do Conif, que acredita que ainda há espaço para o crescimento da rede, devido ao tamanho e às necessidades do Brasil.





Jornal do Professor – Qual a importância da educação profissional e tecnológica na educação brasileira?



Cláudio Lima - A educação profissional e tecnológica é estratégica no processo de desenvolvimento econômico, principalmente considerando a dinamicidade da economia brasileira. Nós caminhamos para a quinta posição no ranking mundial das economias. Esse modelo econômico não deve ocorrer descolado do aumento da escolaridade e da qualificação dos trabalhadores. Não temos estoque de mão-de-obra como a China ou a Índia. Temos que agregar valor aos produtos e serviços, o que só se consegue com a melhoria da qualificação. Não há dúvida de que a qualificação profissional assume relevância no cenário econômico, considerando o novo perfil demográfico da população brasileira, hoje, com o maior número de pessoas na economia ativa. Um dado importante para a reflexão acerca disso é que, em 2010, éramos 69,4 milhões de pessoas entre 29 e 39 anos, ou seja, economicamente ativas. Entretanto, segundo dados do IPEA, de 2008, no Brasil, há 53 milhões de pessoas pobres, do total da população. Esse cenário enseja grandes desafios, sobretudo se conseguirmos a implementação de um modelo de desenvolvimento econômico que descentralize a renda e caminhe na direção do bem-estar da população. Diante disso, consideramos que temos grande contribuição a dar ao processo de erradicação da pobreza e da melhoria da renda, já que a educação profissional e tecnológica desempenha papel relacionado à preparação para a vida e para o mundo do trabalho. Com efeito, a educação profissional e tecnológica permite a formação verticalizada e transversal, perpassando os dois grandes níveis de educação: o básico e o superior. Assim, eu diria ser esta modalidade educacional o caminho para a integralidade humana, uma vez que prepara para a vida e, como tal, não prescinde da preparação para o trabalho.





JP – Como o senhor avalia o crescimento da rede federal de educação profissional e tecnológica?



CL – Avalio como espetacular. Ao longo dos últimos oito anos, chegamos a crescimento de 153%. É importante ressaltar que esse crescimento veio com sustentabilidade, com investimentos de capital, de custeio e de pessoal, embora ainda faltem alguns pontos para consolidação total do processo. O mérito maior se deu na democratização do espaço da educação profissional e tecnológica, que estava restrito aos grandes centros urbanos. Atualmente, centenas de jovens e adultos têm acesso a essa modalidade de ensino, sem precisar deixar a sua cidade. Essa nova distribuição espacial das instituições federais de educação profissional contribui para preencher alguns vazios presentes nos estados, inclusive no Distrito Federal. É importante destacar, ainda, considerando o tamanho e as necessidades do Brasil, que ainda há espaço para o crescimento da rede. A sinalização da garantia de continuidade, da consolidação e da expansão da rede já existe. A nossa avaliação é de que chegaremos a uma situação ideal como a universalização da oferta, com mil unidades, dentro de 10 anos, conforme preconiza o Plano Nacional de Educação.





JP – Como é feita a definição e escolha de novos cursos a serem oferecidos pelas instituições da rede? Há vocações definidas para diferentes regiões?



CL – Procuramos contemplar as vocações regionais, ouvindo a sociedade civil, sem perder de vista a importância do papel indutivo do desenvolvimento econômico, pois a qualificação dos trabalhadores constitui um aspecto de grande relevância no momento em que novas empresas definem a localização de sua matriz ou de suas filiais.





JP – Há alguma mudança no foco dos novos cursos ofertados?



CL – A rede tem procurado acompanhar a evolução tecnológica, buscando atentar para as áreas de carência de mão-de-obra qualificada e ou estratégicas – mineração, logística, petróleo e gás, energias limpas e para outras em que não se tinha oferta pública de cursos, por exemplo, a aviação. Outro foco importante da educação profissional é o nosso compromisso com as áreas das ciências, grande carência no Brasil. Além disso, precisamos formar os formadores, melhorar a qualificação dos professores e divulgar a ciência e tecnologia em todos os níveis.





JP As escolas da rede federal sempre se destacaram pelo alto nível do ensino oferecido. Com o aumento do número de instituições essa qualidade poderá ser mantida?



CL – Uma das principais preocupações dos gestores tem sido a garantia da qualidade. Crescer é importante, mas nós temos lutado para manter os investimentos em laboratórios, salas equipamentos e, principalmente, em recursos humanos, com especial atenção para os docentes. Crescer não significa a perda da qualidade, pois ela está relacionada a outros elementos, como a manutenção de investimentos compatível com a formação de qualidade. Cabe ainda destacar o fato de que temos nos preocupado em manter o equilíbrio entre a teoria e a prática, garantindo aos cursos forte carga de aulas práticas em laboratório, professores com mestrado e doutorado, o que resulta na formação integral dos nossos alunos, não só no aspecto científico e tecnológico, mas também no que tange à prontidão para o exercício da cidadania.





JP – Como é feita a seleção de novos professores para as instituições da rede? O que é necessário para ser professor da rede?



CL – O ingresso dos professores se dá por concurso público, por meio de seleção de provas e títulos e desempenho didático. Hoje, o perfil dos professores que ingressam na rede é bastante elevado. Além da graduação, há a exigência de grande percentual de docentes com mestrado e doutorado. Tendo em vista a consolidação da terceira etapa da expansão, aguardamos o anúncio de novos concursos para este ano.





JP – Como a pesquisa é realizada na rede?



CL – A pesquisa é recente e o nosso viés é a pesquisa aplicada, ou seja, focada em resolver os problemas por meio do conhecimento a serviço da comunidade. Isso requer, cada vez mais, aproximação com os empresários, especialmente das pequenas e microempresas, em geral, fadadas à mortalidade pela falta de capacidade de inovar e por não dispor de mão-de-obra qualificada.





JP – A rede tem conseguido transformar produtos desenvolvidos pelos estudantes e professores em escala comercial? E esses produtos têm ido para o mercado?



CL – Sim, esse é um objetivo a ser ampliado. Já podemos destacar na rede vários produtos desenvolvidos em parceria com empresas e instituições, utilizando recursos da Lei de Informática, de Inovação e Lei do Bem. Como exemplos, desenvolvemos no Ceará e já disponibilizamos ao público um sistema de detecção de roubos e furtos de cabos de eletricidade, em parceria com a Coelce; com a Chesf, um robô que detecta fissuras nas paredes das represas das hidrelétricas e também um mototaxímetro, já em fase final, praticamente pronto para ser lançado no mercado. No caso da pesquisa, é fundamental desenvolver ainda mais as tecnologias sociais.





JP – Como o senhor vê a possibilidade de as instituições da rede oferecerem a pós-graduação?



CL – As ofertas já vêm acontecendo. Várias instituições já oferecem cursos stricto sensu. É importante ressaltar que os órgãos que regulamentam a pesquisa e a pós-graduação no Brasil precisam enxergar melhor o potencial dos projetos da rede, onde sobressaem ideias direcionadas à aplicabilidade do conhecimento, muitas vezes incompreendidas pela universidade tradicional. Dessa maneira, é importante que esses órgãos entendam a particularidade da rede e permitam o alargamento desses espaços, a fim de que possamos, efetivamente, contribuir com a ciência, tecnologia e arte e, por conseguinte, com o nosso país. Na minha opinião, os mestrados profissionais, que representam mais a aproximação entre a formação acadêmica e o mundo do trabalho, têm nas instituições da rede um locus bastante favorável e fértil.






FONTE: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/noticias.html?idEdicao=56&idCategoria=8

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